Dia do Trabalhador: comemorações no país foram esvaziadas, sem muito prestígio
9:53 02/05/2025

Em várias cidades, atos celebrando o 1º de maio foram contidos. Manifestantes defenderam a redução da jornada e fim da escala 6×1
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Em São Paulo, sem Lula, estavam os ministros Márcio Macedo (Secretaria-Geral), Cida Gonçalves (Mulheres) e Luiz Marinho (Trabalho) – (crédito: Paulo Pinto/Agência Brasil)
As dezenas de milhões de trabalhadores brasileiros resolveram passar feriado internacional do Dia do Trabalhador, ontem, longe das manifestações, inclusive o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já as milhares de pessoas que foram às ruas, em diversas cidades do país, aproveitaram para reivindicar avanços nas condições de trabalho, com destaque para a redução da jornada e o fim da escala 6×1 — em que o funcionário trabalha seis dias e folga um.
Em São Paulo, na Praça Campos de Bagatelle, em Santana, Zona Norte da capital, o evento organizado por seis centrais sindicais, com shows de vários artistas e sorteios, teve o lema “Por um Brasil mais justo: solidário, democrático, soberano e sustentável”. Entre as principais bandeiras, destacam-se: jornada de trabalho reduzida sem corte salarial, isenção de Imposto de Renda até R$ 5 mil, igualdade salarial entre homens e mulheres, aposentadoria digna e combate ao feminicídio. Também houve sorteio de carros e shows com vários artistas, como Fernando e Sorocaba, Edson e Hudson e o grupo Pixote.

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O evento, iniciado às 11h da manhã, não teve a tradicional presença de Lula, que mandou representantes. Entre eles, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, ex-sindicalista como o presidente Lula, a ministra Cida Gonçalves (Mulheres) e o ministro Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência).
No discurso, Marinho atribuiu o esvaziamento na celebração a um movimento de “retomada” por parte das organizações. “Eu acho que as centrais estão em um processo de retomada. Hoje, não foi um público que eles estavam acostumados a fazer no passado. Evidentemente que eu acredito que a capacidade estrutural de mobilização também não foi a mesma que eles tiveram no passado, tudo isso faz parte de um processo”, disse. “Tenho certeza de que o ano que vem pode ter mais [público] do que neste ano, e, em 2027, pode ter mais do que em 2026, e, assim, sucessivamente”, acrescentou.
Na Avenida Paulista, a Central Sindical e Popular Conlutas (CSP-Conlutas) liderou um ato em frente ao Masp, defendendo a independência dos sindicatos em relação a governos e empresas. O movimento exigiu a revogação do arcabouço fiscal, das reformas trabalhista e previdenciária, e a punição dos responsáveis pelos atos golpistas de 8 de janeiro. O ponto central foi a exigência por uma jornada de quatro dias e três de descanso, com forte crítica ao modelo 6×1.
Na Grande São Paulo, o Paço Municipal de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, foi palco do evento “1º de Maio no ABC: 100 anos de lutas e conquistas”. A celebração, das 10h às 18h, contou com atrações musicais como Belo e Mc Hariel, além de arrecadação solidária de alimentos. As pautas locais incluem a extinção da escala 6×1, isenção do IR para salários de até R$ 5 mil e redução da jornada sem perda de salário.
Em Brasília, o Eixão virou palco de um ato político-cultural tímido organizado pela Central Única dos Trabalhadores do Distrito Federal (CUT-DF), em conjunto com outras sete centrais sindicais. A manifestação começou às 10h, na altura da 106 Sul, e teve como pautas principais a defesa de direitos, democracia e melhores condições de vida para a classe trabalhadora.
As principais reivindicações dos trabalhadores brasilienses neste ano foram: redução da jornada de trabalho sem redução salarial, o fim da escala 6×1, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a queda da taxa básica de juros e o fortalecimento dos serviços públicos. Os protestantes ainda levaram faixas negando a anistia aos réus dos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro.
Com uma programação que mistura reivindicação e confraternização, o evento contou com apresentações culturais, brinquedos para as crianças, food trucks e diversas atividades abertas ao público. Segundo os organizadores, a escolha do local foi feita para facilitar o acesso dos participantes, com transporte público gratuito (metrô e ônibus) durante o feriado e amplo estacionamento nas proximidades, como o do Cine Brasília.
Em Goiânia, a CUT e o Sintego também realizaram ato em defesa da valorização profissional, do fim da escala 6×1 e da justiça fiscal. O evento incluiu sorteios de prêmios, atividades culturais e serviços sociais. Em Recife, a marcha pelas ruas do centro abordou, entre outras pautas, a isenção de impostos, o combate à crise climática e a demarcação de terras indígenas. No Paraná, atos ocorreram em Curitiba, Maringá e Foz do Iguaçu, com enfoque na jornada 4×3, no custo do transporte público e no 1º de Maio Internacional.
Debate no Congresso
As mobilizações ganham força com projetos legislativos em andamento. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) anunciou, ontem, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para instituir a jornada 4×3. “É uma realidade presente em diversos países. Queremos dar aos trabalhadores mais tempo para viver”, afirmou.
Ao Correio, a parlamentar explicou que a Câmara dos Deputados, por meio da deputada Érika Hilton, deu início a um debate histórico, meritório e absolutamente inadiável: a redução da jornada de trabalho no Brasil. “No Senado, somamos forças a essa empreitada transformadora, que já é realidade consolidada em diversas nações desenvolvidas. Agora, temos uma oportunidade de ouro de colocar o Brasil num rol de nações em completa sintonia com a relação de trabalho do século 21”, explicou a senadora.
Gama pontuou que é simbólico e alentador ver que o próprio presidente da República se alinha a essa pauta. “Estamos diante de um novo tempo, e é com esperança e determinação que anuncio: vou lutar com todas as minhas forças para que essa revolução chegue à vida dos trabalhadores brasileiros. Estarei na linha de frente, articulando com colegas do Senado, dialogando com empresas e com a classe trabalhadora, mostrando que o modelo é sinônimo de dignidade, saúde e prosperidade. É bom para o trabalhador, é bom para a economia, e é melhor ainda para o futuro do país”, disse.
Em março, a deputada Erika Hilton (PSol-SP) protocolou uma PEC semelhante e está convocando atos por todo o país. A proposta, no entanto, encontra resistência no Congresso. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), declarou que o tema será discutido, mas criticou a “venda de sonhos”.
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Mesmo diante da resistência parlamentar, o presidente Lula manifestou apoio ao debate em pronunciamento na véspera do feriado. “Está na hora de o Brasil dar esse passo, ouvindo todos os setores da sociedade, para permitir um equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar de trabalhadores e trabalhadoras.” “Nós vamos aprofundar o debate sobre a redução da jornada de trabalho vigente no país, em que os trabalhadores passam seis dias no serviço e têm apenas um dia de descanso”, emendou.
Vale lembrar que o presidente não apareceu a nenhuma manifestação, ontem, a fim de evitar o desgaste político devido à queda na popularidade e à fraude do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), além do esvaziamento nos atos do ano passado, quando público foi de pouco mais de 1.600 pessoas, de acordo com levantamento da Universidade de São Paulo (USP) em 2024. (Colaborou Davi Cruz)
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